"O que você quer com essa moça, rapaz? Será que passa pela sua cabeça que vai transformá-la numa mulher “água com açúcar”? Ah, meu caro, tire o seu cavalo da chuva. Preste atenção! Pelo visto você já se esqueceu da última vez em que tentou fazer isso, né? Investiu numa mulher e fez de tudo para matar a essência dela, e conseguiu por um bom tempo. Acontece que um dia ela acordou e sentiu falta de si própria e reagiu, olhou-se no espelho, fez as malas, olhou nos seus olhos e disse: acordei desse pesadelo, tô indo ao encontro de mim mesma e é um caminho sem volta.
Lembra que você ficou sem chão e sem juízo com a partida dela? Pois é, eu achei foi pouco pra você. Eu, até hoje bato palmas para a atitude daquela mulher fantástica. Eu fui testemunha do quão infeliz ela foi contigo. Ela mais parecia uma morta-viva, sem brilho, sem viço, sem sonhos, apenas existindo. E você vivia ostentando para a família e para a sociedade que tinha uma mulher do seu jeito. Você, de tão egoísta que sempre foi, nunca se perguntou se aquela mulher estava feliz ao seu lado. Você estava mais preocupado em apresentá-la ao seu meio social, como um troféu. Você fazia de tudo para aniquilar o que ela tinha de mais incrível: a espontaneidade.
Aquela mulher de riso fácil foi, pouco a pouco, murchando tal qual uma planta desidratada. E você, de tão incompetente que era, nunca a fizera sentir-se mulher. E ela se sujeitava, mesmo violentando a si mesma. Na verdade, você nunca acessou a alma daquela mulher. Você mal tocava a pele dela, quando eu digo mal, é no sentido literal da palavra mesmo porque você nunca soube tocá-la. Seus toques eram todos previsíveis e miseráveis. Toques de homem analfabeto em se tratando de mulher. Ah que sexo miserável que você oferecia a ela, tenha a santa paciência. Você não entende nada de mulher, meu caro, eu ouvia os desabafos dela.
Eu torcia muito por ela, eu sempre desejei que ela acordasse daquela anestesia. Eu a conheço desde menina, ela era o tipo de mulher que sorria pelos olhos, daí, veio você e acabou com tudo. Você sempre teve medo de mulheres intensas, nunca foi homem o suficiente para ter uma mulher inteira ao seu lado, por isso assassinava a sangue frio a essência das mulheres com as quais você se relacionava. Era o seu ponto forte. Se interessava por uma mulher exuberante, e, era só ter certeza do amor dela que você se revelava.
Mas, a sua última mulher teve um final feliz. Ela foi liberta das suas garras. Eu assisti, de camarote, a minha amiga assinando a própria carta de alforria. Ah, cara, nem te conto, ela está muito feliz e com as emoções restauradas. Ao contrário do que você pensa, ela não foi embora da sua vida por causa de outro homem. Ela foi embora porque estava muito infeliz contigo e ela já estava a um passo de perder a lucidez. Ela nunca encontrou em você os abraços que ela sonhava, nem os beijos, nem a cumplicidade… nada. Na verdade, nem amigo dela você foi.
Ela não precisa mais se preocupar em modular as gargalhadas dela, tão inconfundíveis. Ela não precisa mais viver se escondendo dentro de roupas largas para esconder as curvas, como fazia contigo.
Ah, aceita um conselho? Essa moça é muito intensa e cheia de vida, ela não combina contigo. Busque uma mulher “tranquilinha” para você se relacionar. Sugiro também que busque uma psicoterapia para que você possa entender a origem dessa necessidade de anular a essência de uma mulher para sentir-se seguro ao lado dela."
Nenhum comentário:
Postar um comentário