quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Senta aqui, vou te contar o meu tamanho.


"Tanta gente com vergonha do próprio corpo, por causa de gente sem vergonha na própria língua."


Senta que lá vem história.

Eu preciso começar esse texto contando algo que sobre o qual já comentei sobre lá no Instagram, mas de forma bem superficial. 

Eu sempre fui gordinha a maior parte da minha vida. A maioria das minhas lembranças são dos meus pais ou pessoas próximas me dizendo para comer menos. Também me recordo de, na escola, ouvir os meninos cantando na hora do recreio: "Claudinha, baleia! Saco de areia."

Acho o máximo pessoas que são bem resolvidas com o próprio corpo e que não se importam com a opinião alheia. O problema é que eu nunca fui uma delas. Sempre tive vergonha. Sempre me olhei no espelho e me achei horrível. Gorda. Baleia, como os meninos gostavam de dizer.

Acontece que, quanto mais me chamavam de gorda ou me mandavam parar de comer porque eu "já estava enorme", eu apenas me sentia mais triste e mais eu descontava minhas frustrações na comida.

Até que um belo dia, assistindo uma novela da Globo, vi a atriz que interpretava uma bailarina que escondia comida debaixo da cama e vomitava tudo que comia para a mãe não brigar com ela. (Lembram dessa novela? Pois então. Aqui podemos abrir também espaço para o questionamento sobre o quanto acabamos sendo influenciados pelo que vemos na TV - e, agora, também pelas redes sociais).

No algo dos meus 17 anos, vi aquilo e pensei: "Se ela vomita, eu também posso. E se eu vomitar, posso comer tudo que eu quiser em engordar!"

Seria cômico se não fosse doentio.

O gatilho foi disparado. 

Eu comecei vomitando só as coisas que eu comia fora do "aceitável", como hambúrguer, pizza, chocolate ... Até que, aquilo começou a me "trazer resultados" e eu não queria mais vomitar só aquilo. Então, eu comecei a vomitar T U D O que eu comia. Desde o leite no café da manhã até a última refeição do dia. Fora os pacotes que eu passei a comprar de guloseimas e escondia no armário. Eu sentava na frente da TV com o pacote, comia, comia, comia até não aguentar mais. Quando me sentia saciada, simplesmente levantava, ia até o banheiro e colocava pra fora.

Hoje, pelo menos até à última vez em que me pesei, eu estava com 64 kg. Pra quem tem 1,55, isso é bastante coisa. Porém, naquela época, ao passar quase um ano vomitando tudo que comia, eu cheguei aos 50 kg.

Eu havia secado. Todo mundo notava. E eu me achava o máximo.

Eu poderia dizer pra vocês que eu tinha achado a solução do meu maior problema - minha compulsão alimentar - se não fosse os resultados que tudo isso estava me trazendo: Meu cabelo não só quebrou como caiu. Minhas olheiras eram imensas e o olhar era fundo. Meu estômago doía TODOS os dias. Até o dia em que minha garganta chegou a sangrar e eu entrei em desespero (mas continuei a vomitar).

Isso só acabou porque uma amiga, que não aguentava mais me ver naquela situação, ligou pra minha mãe e contou a ela o que eu estava fazendo. 

Me recordo a ligação ocorreu pouco tempo depois de um dia na qual saímos para lanchar, eu comi o hambúrguer e, logo depois, ela foi ao banheiro comigo e me viu enfiando o dedo na garganta pra vomitar o aquilo tudo.

Doentio, eu sei.

Mas pensem em quantas vezes eu me odiei ao me olhar no espelho e no quanto eu me sentia um lixo em todas as vezes em que fui chamada de gorda.

Por fim, depois da ligação, minha mãe - que ficou chocada com o que estava acontecendo debaixo do nariz dela, sem que ela aos menos percebesse -, me levou a um psicólogo, comecei a fazer uso de ansiolíticos e eu passei a não poder ir mais ao banheiro de porta trancada. PRA NADA. Porque ela me vigiava. 

O problema é que, sem minha "tática infalível", eu voltei a engordar tudo de novo. A partir dali eu comecei a fazer uso de remédios que tirassem o apetite por conta própria. Voltei a emagrecer. Porém, quando parava de tomar, sempre engordava mais do que eu havia emagrecido. Ou seja, um círculo sem fim.

Para finalizar a história, minha guerra com a balança continua. Minha bochechas são grandes, meu rosto é redondo, meu quadril é largo. Mas hoje, eu consigo me olhar no espelho e me sentir bem em 90% dos dias. Nos outros 10%, eu ainda brigo com ele. Mas eu tenho aprendido a ME ACEITAR e isso é um desafio interminável, no qual, quem passa pela mesma situação, sabe o quanto a gente luta dia após dia.

Agora vamos lá: Por que diachos eu tô contando isso tudo? 

Pois agora você vai entender.

Uma pessoa que conheço há muito tempo, foi conversar sobre mim com um amigo e, por um acaso, resolveu me contar o desfecho da conversa, que foi a seguinte:


Talvez a pessoa que me contou tudo isso possa ter pensado: "Vou ganhar muitos pontos contando para ela a resposta que dei para esse meu amigo!". CONTUDO, PORÉM, ENTRETANTO AND TODAVIA: a ÚNICA coisa que eu conseguia enxergar (e reler mil vezes) era:

"vc viu o tamanho que ela ta?"

Gente, sério. Sabe o que é você ler algo e sentir o mundo desabar na sua cabeça? Sabe o que você ficar sentada lendo e relendo a mesma conversa várias vezes porque a última coisa que você queria era ler algo daquele tipo?

Pois então. Eu passei o dia TODO extremamente triste. Sabem quando você se machuca, o machucado vai curando e você resolve arrancar a casca da ferida? Foi essa a sensação. Tudo aquilo que eu ouvi a maior parte da minha vida veio à tona. Eu me olhava no espelho e me sentia a criatura mais horrorosa desse mundo. 

Até que resolvi comentar sobre isso com uma amiga minha, que SEMPRE tem uma palavra cheia de luz pra me dar, a @advogadaporescolha.



"Cada cicatriz, cada estria é um mapa de tudo o que eu já vivi. E o meu coração é o mapa de quem eu sou."

Ainda bem que eu não dormi sem essa! 

Porque foram essas palavras que fizeram com que eu me desse conta de que REALMENTE EU SOU ENORME! E sabe por que? 

Porque o AMOR que eu levo dentro do meu coração é IMENSO.

Porque os meus SONHOS são IMENSOS.

Porque a minha VONTADE DE FAZER A DIFERENÇA NO MUNDO é IMENSA.

Porque a minha vontade de FAZER O MEU MELHOR EM CADA COISA é IMENSA.

E foi nessa hora eu percebi que esse cara realmente tinha razão: O MEU TAMANHO NÃO CABE EM MIM. EU SOU GRANDE PRA CARAMBA! Só que essa grandeza toda, só conhece quem me enxerga além da superfície. 


“Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo terá luz.” 

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