sábado, 17 de outubro de 2020

Despertar.

"Eu não fazia ideia de quem eu era até precisar de mim mesma."

Eu sempre quis tanto agradar todo mundo, que, na minha cabeça, a idea de amor-próprio era ser um pessoa egoísta, algo que eu não queria ser de forma alguma. Colocar à fente das minhas a necessidade dos outros, era visto por mim como algo nobre. Doce ilusão.

Hoje, consigo enxergar como essa ideia não passava de uma visão totalmente distorcida da minha cabeça. Tentando agradar os outros, me colocando em segundo plano, dizendo "sim" querendo dizer "não" para não magoar, foram atitudes que apenas me prejudicaram e me levaram ao sofrimento.

Amor-próprio não é egoísmo. Me coloar em primeiro lugar e saber o que eu preciso e o que eu não quero e não preciso aturar, não é egoísmo. Afinal, se eu achar que posso receber menos, por que o outro deveria achar que mereço mais?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Como eu lidei com a minha fase de "só" estudar.


Essa semana postei no @concurseira_capixaba umas 'curiosidades' sobre mim e algumas pessoas aproveitaram a oportunidade para fazer perguntas. (Ps.: Sim, eu respondo os directs e amo quando vocês mandam mensagens!). Como são perguntas que eu sempre recebo, resolvi contar aqui pra quem quiser ter acesso. Então, let's go! 

Assim que sai da faculdade, consegui um emprego (comissionado) na Procuradoria do Município aqui da minha cidade e lá fiquei por quase dois anos. Nesse tempo, tive muita dificuldade em me organizar e conciliar o trabalho com os estudos pra concursos. Foi nessa época que fiz minha primeira Pós-Graduação.

Contudo, com o tempo fui ficando um pouco insatisfeita (quem trabalha em Prefeitura sabe bem como são as coisas) e no final de 2014 tomei coragem e pedi pra sair. Meus pais me apoiaram, mas não deixaram de me perguntar se aquilo era realmente o que eu queria e se eu estava disposta e abrir mão do meu dinheiro (já que eu sabia que eles não poderiam ficar me ajudando com muita coisa). 

Juntei minha insatisfação com o trabalho com minha vontade de me dedicar aos estudos e lá fui eu, começar o início da minha jornada de concurseira que "só" estuda.


1- "Qual foi sua maior dificuldade quando virou concurseira?"


Como disse no diretc, minha primeira grande dificuldade foi criar disciplina. Afinal, esse negócio de motivação é muito bonito na teoria, mas ninguém acorda motivado todos os dias. E vai ser exatamente nesses dias de pouca - ou nenhuma  - motivação que você vai precisar da sua disciplina para estudar, ainda que sem vontade alguma

Outra grande questão foi o fato de que eu comecei a trabalhar aos 16 anos, me acostumei a ter o meu dinheiro para fazer as minhas coisas e, naquele momento, com 25 anos, eu estava abrindo mão de tudo aquilo pra focar no meu sonho. Na teoria isso também é muito lindo e admirável ("Nossa, ela largou tudo pra estudar pra concursos, que coragem!"), mas com o tempo isso pesa - e muito! Ainda mais se sua família - como a minha - não tem a melhor das condições financeiras. 

E um dos pontos que, com o tempo acabou me afetando muito e gerando consequências ruins (vou contar sobre isso daqui a pouco), foi o fato de que, quando você começa a estudar em casa, acaba se isolando um pouco (ou muito). Você deixa de ter aquele contato diário que antes você tinha com as pessoas do seu trabalho, você não tem mais grana pra estar saindo toda semana pra encontrar os amigos. E é preciso ter muito jogo de cintura pra não acabar se estrepando. 


2 - "Você acha que está rendendo mais trabalhando + estudando do que 'só' estudando? Tenho medo de voltar a trabalhar e não conseguir seguir com os dois."


Não comentei isso diretamente em nenhum post lá no IG, mas algo que decidi no final do ano passado - depois de três anos 'só' estudando e passar por uma fase péssima no final 2017 - foi que eu voltaria a trabalhar.

Hoje eu estou no MP cobrindo férias de um funcionário terceirizado, mas na semana que vem já começo em um novo emprego. (Deixa eu começar e logo conto mais pra vocês). 

Está difícil conciliar a rotina? Está. Ainda mais que eu tô me virando pra dar conta da minha segunda Pós (agora em Família e Sucessões) + curso de Prática e Atualização em Processo Civil + estudar pra concursos. A gente acha que vai enlouquecer e não dar conta de tudo? Acha sim! Mas não final tudo se ajeita! 


Agora deixa eu contar uma coisa pra vocês. Outro dia, assistindo um (dos muitos que assisto) vídeo do Tiago Brunet, ele falava mais ou menos o seguinte: Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive

Escolha ter perto de você pessoas como a Priscila, que vão te servir de motivação, que vão te fazer querer ser alguém melhor. Que não vai deixar de dar atenção aos amigos (longe dessas teorias malucas que pra estudar você precisa abrir mão de TUDO pra estudar), mas que tem uma disciplina na qual você vai se espelhar. 

Já aquele povo aquele não entende que você não pode sair toda hora porque precisa estudar, que adora perguntar sobre suas provas não porque querem seu bem, mas por mera curiosidade e que, ao menos festejam com você cada pequeno grande avanço seu, saia de fininho. 

"Maturidade é saber que tem pessoas que Deus vai colocar na sua vida por um tempo. E depois Ele vai precisar tirar, porque, para o tempo que você vai entrar, ela já não vai acrescentar. E a gente fica triste quando Deus tira alguém do nosso lado. Mas Ele vai colocar outra pessoa para fazer a gente crescer mais ainda. Celebre quando alguém entrar na sua vida e não reclame quando alguém sair. Deus está no controle de tudo."


3 - "Eu também sai do emprego e entrei de cara nesse mundo dos concursos e sei BEM do que você está falando. O 'virar dependente' de novo e o 'não produzir' pesam bastante. Quando você percebeu que não estava mais te fazendo bem? E o que você fez/faz para ajudar nisso?"


Agora, meu amigo, senta que lá vem história. 

Como já contei aqui, sai do trabalho, fiquei três anos estudando em casa, abdicando de comprar coisas, de sair e tudo mais. Nesse período eu tiver a sorte (na verdade, "não é sorte, é Deus!) de ter o instagram que me deu a oportunidade de ganhar livros e cursos, que foi o que me "salvou" nesse período. Então eu sempre gosto de dizer que não posso reclamar, porque Ele sempre me sustentou. 

Mas em setembro do ano passado voltei da prova do TRE-PR MUITO mal. Sabe quando você dá o seu máximo nos estudos, quem me acompanha lá sabe que eu acorda sempre às quatro da manhã e ia até as seis da tarde. Essa sempre foi a minha rotina nesses anos de estudos, mas sabe quando você estuda com toda confiança pra uma prova porque você coloca na cabeça que aquela é a SUA prova?! Então! Afinal, eram três anos de estudos e toda minha dedicação. 

Acontece que, chegando lá, pelo menos pra mim, a prova não estava em nível de Tribunais (principalmente, pra Analista). A primeira prova foi a de Técnico e eu já não tinha achado fácil. A  tarde fui pra prova de Analista e quando abri a prova, sinceramente, minha única vontade era de chorar, rasgar aquela prova toda e sair gritando. (Juro.) Parece um surto louco? Parece. Mas sabe quando você já tá extremamente esgotada daquilo tudo, dá o seu melhor praquela situação e não sai nada como você esperava? 

Hoje eu consigo voltar pra casinha e entender que não foi porque não era pra ser. Não era aquela prova e aquele lugar que Deus tinha pra mim. Mas naquele momento, eu só consegui me revoltar. Eu, que sempre tive uma fé gigante, simplesmente me revoltei. Voltei chateada, cheguei em casa e só chorava, sentei no chão, peguei um livro e rasguei ele todo enquanto perguntava pra Deus pra que ele me permitia ganhar aquilo tudo (livros, cursos), se eu não era capaz de passar em prova alguma. 

Independente da minha revolta, em menos de um mês eu teria a prova do TJMG e, mesmo mal, sentei a bunda da cadeira e lutei contra meu desânimo todos os dias pra conseguir estudar. Fui, fiz a prova e meu nome saiu entre os aprovados, mas longe de ser chamada.

Por fim, no final de novembro, fiz o TRF1, que foi minha última prova de 2017. Meu nome também saiu na lista de aprovados, mas - mais uma vez - sem esperanças de ser chamada. 

Depois dessa última prova resolvi que me daria um tempo pra descansar. O problema foi que eu simplesmente desanimei de TUDO. De início, eu acreditei que era uma tristeza 'normal' e que passaria. Mas perdurou de dezembro a fevereiro. Eu simplesmente perdi a graça com a vida. Ficava o dia todo no quarto, deixava ele todo escuro, não tinha vontade de conversar, nem ver ninguém. Não bastasse, comecei me achar uma inútil, que minha vida não tinha mais sentido. 

Resumindo bem: eu não queria mais existir. Várias vezes me passou pela cabeça tomar vários remédios porque eu não queria mais estar aqui. Como - graças a Deus - eu nunca tive coragem, eu me entupia de remédios pra dormir a maior parte do dia. 

E é muito triste quando chegamos a um ponto desse. Porque não importa o quanto digam que "vai passar". Ou "é só uma fase". Ou, ainda, "olha pra vida de tantas pessoas que passam dificuldades enormes, você vai perceber que tem muito a agradecer". Eu sabia que tinha. Mas eu não tinha forças. Eu não via mais sentido em nada. E eu não queria mais viver. 

E o mais engraçado é que, como tudo isso aconteceu mais no final do ano/férias/carnaval, eu acaba indo pra praia com minha família, tirava fotos, metia um sorrido falso no rosto e postava nas redes sociais. Sabe quando você tenta provar pra si mesmo - e pro mundo a sua volta - que você está bem, mas por dentro você é só caquinhos? Eu acaba rindo quando alguém chegava pra mim e dizia: "Nossa, vi sua foto na praia, tá curtindo bastante heim!" E a pessoa não fazia a mínima ideia do que se passava dentro de mim. O quanto eu chorava e não queria existir.

E ai é que a gente se dá conta de como a gente não pode se enganar com essa coisa de rede social - onde todo mundo é feliz e sem problemas. Já postei sobre isso no IG e vou aproveitar pra dizer mais uma vez: As pessoas postam aquilo que elas querem que você veja. Ninguém posta fotos chorando, ninguém fala sobre depressão e a vontade que ela sente de dar fim à própria vida. Até porque, a verdade é que pouca gente se importa com isso


Várias vezes eu quis desabafar no IG, mas não tinha coragem porque não queria passar minha 'bad vibes' pras pessoas (uma vez fiz um post aqui) e eu sabia, que no fundo, a grande maioria quer sugar de você apenas o que você tem de bom a oferecer. E vai ser pouca gente que vai se importar com seus problemas. Enfim ...


Hoje, graças a Deus, eu tô bem. E ai você deve estar se perguntando: Mas como você fez pra melhorar? 

Bom, definitivamente, não foi do dia pra noite. Primeiro que, desde a minha volta do TRE-PR, eu fiquei meses sem orar. Como eu contei, fiquei questionamento Deus várias coisas e o meu modo de me 'rebelar' foi ficando sem falar com Ele. O que foi a maior tolice da vida. Mas isso a gente só descobre depois de já fez a caquinha. 

Segundo que, mesmo que por diversas vezes eu não mereça, Deus é tão maravilhoso que me deu os melhores amigos que eu poderia ter. Eu tenho muita gente pra agradecer e que foi essencial nessa minha melhora, mas tem duas pessoas que eu preciso citar aqui: Kikito e Jéssica. Por mais que eu ficasse o resto do dia escrevendo sobre eles, eu não conseguiria dizer o tanto que os amo e o tamanho da minha sorte em tê-los na minha vida. Hoje, o que eu posso dizer aos dois é: Obrigada por nunca terem desistido de mim! 

Por fim, o que me ajudou foi me dar conta de que me afastar de Deus não nunca foi - nem nunca será - a solução. Confesso que foi muito difícil voltar a conversar com Ele. (Sim, Ele é nosso 'parça' e você pode se sentar e conversar abertamente sobre tudo que está no seu coração porque Ele te ouve). 

O que me ajudou muito foi encontrar no internet o livro: 12 dias para atualizar sua vida. Não me pergunte o que me faz comprar esse livro, eu apensar olhei e pensei: "Eu preciso ler." Hoje eu sei que Deus estava ali do meu ladinho me guiando pra chegar até ali. 


Não é a toa que eu vivo indicando ele lá no IG. Um dos livros que amei ler na vida. E que vira e mexe eu pego, releio as partes grifadas. É aquele que você vai ler e reler e reler e reler, sabe?! Afinal, a gente sempre precisa renovar os puxões de orelha. 

Depois que conheci o Tiago através do livro dele, descobri que ele tinha um canal no Youtube e lá fui eu. Sinceramente e de todo o meu coração: Eu não tenho como mensurar o tamanho da importância que as pregações dele tiveram na minha vida pra me ajudar a sair do buraco emocional que eu estava. De coração. Eu assistia, anotava, chorava, assistia de novo. E até hoje eu revejo vários vídeos quando não tem nenhum novo postado.

Sabem aquelas pancadas cheias de sabedoria que a gente precisa? Então, é isso ai que você vai ter. 

E por fim, mas não menos importante, eu tive ajuda de um médico e hoje tomo antidepressivo, o que me ajuda bastante a me manter estável. Acredito que precisamos orar e acreditar que Deus cura tudo sim, mas também acredito que se Ele deu ao homem esse poder de ser médico e cuidar das pessoas, não foi a toa. Então, não fique nessa de achar que só orar vai resolver, porque, por vezes, também precisamos de ajuda de um especialista. E saiba que isso não é vergonha alguma.

Também preciso dizer que, após esses três anos de estudos, estresses, reprovações, aprovações (mas sem nomeações) e isolamento, uma das coisas que eu já terminei 2017 determinada fazer em 2018 era voltar a trabalhar. Eu ainda não havia falado abertamente sobre isso no IG, mas isso foi algo que também tem ajudado DEMAIS na minha melhora.

A partir do momento que você deixa de ter somente os livros como companheiros de jornada, mas também sai de casa, tem toda uma rotina de trabalho, lida com outras pessoas, cria vínculos, sua cabeça muda e você se dá conta que você não é só seu estudo pra concursos. Você precisa se dedicar MUITO SIM, mas você também precisa conviver com outras pessoas, ter alguém pra conversar (e muitas das vezes exatamente sobre concursos!), ter seus momentos de lazer. Porque tudo isso faz falta sim! 

Trabalhar e estudar é muito mais cansativo? É, claro. Mas depois do que eu vivi, posso dizer que também é emocionalmente mais saudável. Hoje, qualquer pessoa que me pergunta se eu aconselharia  alguém a largar tudo pra ficar 'só' estudando, minha resposta prontamente é NÃO (por todos os motivos já comentados neste post enorme, mas que eu precisava dividir com vocês).

Acho que é isso. Espero que ajudar vocês de alguma forma, principalmente, abrindo os olhos de vocês para que não passem pelo mesmo que eu. 

E caso você já esteja nessa situação, lembre-se sempre:


Texto escrito em 17 de março de 2018.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O abuso disfarçado de amor.


Assisti nesse final de semana a nova série da Netflix "Bom dia, Verônica". Gostei porque trata de um tema muito atual - a violência contra a mulher, que está todo dias ai nos jornais, infelizmente. Mas o assunto que eu quero abordar hoje não é a violência propriamente dita (aquela que deixa marcas na pele), mas sim a violência psicológica, os abusos discretos, aquelas marcas que ficam pra sempre na vida da pessoa e que ninguém vê.

Há pouco menos de um mês me vi sendo obrigada a sair de relacionamento, já que ele quis terminar. O buraco que fica no peito ninuguém sabe, ninguém vê. Só a gente sente. Me questionei por muitos dias (por vezes os pensamentos ruins ainda vêm, mas tenho aprendido a lidar com eles), aonde foi que EU havia errado. Afinal, se pra mim estava tudo bem e ele dizia estarmos na "nossa melhor fase", como termina assim, "do nada"?

Acontece que hoje, eu entendo que não foi "do nada", mas que teve um empurrãzinho. Mas isso foi tema do post anterior.

Nesse aqui, o foco é falar sobre como tudo começa.

O cara, quando é abusivo, não chega mostrando quem é. Ele chega de mansinho. No meu caso, quando conheci meu ex, eu estava mais machucada do que nunca. Havia saído de um "pseudo-relacionamento" e estava completamente despedaçada e dependente da presença de alguém que só me fazia mal. E ai ele apareceu. Conversa boa, criando sonhos, falando até de fazer viagem pra serra no final de semana só nós dois, onde ele até cozinharia pra mim - afinal, ele era especialista no melhor strogonoff de frango, segundo ele. Com duas semanas, ele disse que me amava e que não sabia explicar todo aquele sentimento. Eu deixei acontecer, afinal, eu, que já estava toda quebrada, o que tinha a perder?

Fui pra praia com ele, passamos ano novo juntos, eu - que odeio meu corpo e vivo ouvindo em casa que estou "gorda" - só ouvia ele dizer o quanto eu era linda. Fazia tudo pra me agradar, até meu leite batido nos lanches da tarde. Eu sentia que ele me amava de uma forma da qual eu jamais havia sido amada. Ele era incrível. Pelo menos era o que parecia.

Não foi difícil aprender a amá-lo e aprender a passar por cima dos "defeitos", já que tudo que tínhamos de bom juntos fazia tudo valer a pena.

Eu não tenho como dizer que ele não me ajudou em muita coisa. Com ele, eu aprendi que um relacionamento pode ser leve, sem cobranças, que eu posso sim ser bem tratada, que o "amor" é uma via dupla, onde eu faço e o outro também.

O problema foi ele querer ser o centro de tudo.

Com meses de namoro, ele me convenceu de que eu não precisava mais dos meus remédios, principalmente dos meu antidepressivo, pois, com ele, eu estava melhor, mais leve, mais feliz. Era como se ele fosse a solução dos meus problemas. Depois de muito relutar, eu acatei. Parei de tomar. As duas primeiras semanas foram "normais", mas depois disso, eu fui ladeira abaixo. Meses de tratamento, foram pro lixo e eu voltei praquele fundo de poço aonde eu estava antes. Me dei conta disso e voltei a tomá-los. Só que até tudo voltar ao "normal" com o uso do remédios, foi uma fase BEM difícil, onde, num belo dia, ele resolveu terminar dizendo "como um cara fogoso como eu vai se casar com uma mulher triste como você?"

Outra questão que ele sempre batia na tecla, sempre "com todo carinho e porque ele queria o meu melhor", era de que "se eu não havia passado até hoje em concursos, talvez eu estivesse batendo na tecla errada e devesse tentar outros caminhos, como advogar.". Esse é o problema, tudo é dito com muita sutiliza e sempre porque o cara quer o melhor pra você.

Outras frases ditas e que na hora, como boa sonhadora idiota que eu sou, eu acaba achando muito bonitinho, era que ele dizia que "queria trabalhar e ganhar muito dinheiro, pra poder me deixar em casa ou, se eu trabalhasse, ele me via trabalhando de casa (como um homeoffice)".

Outros gatilhos era frases como "sua família te faz mal e você só vai se curar de verdade quando sair de casa". Dizia que na casa dele eu ficava bem, podia comer a vontade. Além de falar mal da minha mãe, da minha tia que eu tanto amo e também da filha dela por quem eu sou apaixonada, uma criança de 3 anos. Hoje, entendo que a ideia era me afastar da minha família e realmente me fazer acreditar que ele era a solução de tudo.

Um dia belo, enquanto eu lavava a louça do almoço, comentei o quanto eu comia bem quando estava na casa dele e a resposta foi: "mas é isso mesm que eu quero, você uma leitoazinha, pra ninguém olhar pra você na rua". Enquanto isso, ele olhava uma monte de mulher "gostosona" no instagram. Mas , pra ele, eu era "linda mesmo gordinha". Hipocrisia reina.

Isso é o que eu me lembro. Até agora.

O ruim disso tudo é que, quando você não se cura antes de se envolver com alguém novamente, você cai de novo. 

Eu abri pra ele todo o meu coração. Contei pra ele segredos que eu não contaria pra mais ninguém. Desnudei minha alma. Acreditei nos planos de morarmos juntos no ano que vem. Comecei a fazer algo que eu não fazia: economizar. Sonhava com a casa arrumada, com ele chegando depois do serviço. Mas, em momento algum, me dava conta de quão abusivo eram todas essas coisas que ele dizia.

Hoje, me questiono: se namorando era assim, como ele seria depois de casado? O quanto isso tudo mudaria? O quanto eu, estando frágil, continuaria acreditando que tudo era para o meu bem, enquanto, na verdade, era pra alimentar o ego dele?!

Não é fácil pra mim escrever tudo. Não é fácil pensar que a pessoa que eu amava não passava de um personagem, que quis me agradar, foi gentil, carinhoso, me fez acreditar no "amor" novamente e, no final, foi embora da forma mais fria possível.

Eu sempre soube que era a parte "emoção" e ele a parte "razão" da relação. Mas eu jamais vou entender como alguém consegue terminar com alguém que disse amar tanto, de uma forma fria como ele fez comigo.

Hoje, eu me apego na minha fé. Ou pelo menos tento. Muitas vezes me passou pela cabeça tomar um cartela inteira de remédios e acabar com tudo. Não só por ele, mas por todo sofrimento em todos esses 30 anos, seja em relacionamentos, seja com a minha família, seja com os meus sonhos que não deram certo. É a soma de tudo que deu errado que gera desesperança. E não me chame de fraca, porque eu sei que não sou. Afinal, se o fosse, não estaria aqui hoje. Só que, querendo ou não, acho que todo mundo cansa. 

Eu sei que vai passar. Tudo passou até hoje. Mas não é fácil lidar com tudo que se passa aqui dentro enquanto esse período ruim ainda existe em mim. É cada vez mais difícil lidar com os traumas de todos esses anos e criar forças pra seguir. 

Acreditem, por vezes, eu preferiria levar uma porrada no meio cara do que carregar todas as marcas que levo aqui dentro.


Ps: Essa cena é de "You", série também da Netflix. Assisti por indicação por uma amiga e juro que me assustei com as similaridades. 

No final das contas fica a lição: NINGUÉM vai cuidar da gente como NÓS MESMOS. Se vier, que seja pra acrescentar, mas, primeiro, é preciso que a gente se cure. Se ame. Seja feliz sozinha. É preciso que a gente se desfaça das nossas amarras do passado pra não continuar caindo nos MESMO buracos com carinhas diferentes. 



domingo, 11 de outubro de 2020

Meninos da mamãe.

É, minha psicóloga só quinta-feira, então a internet que lute.

Se tem algo nessa vida que eu tenho plena consciência é: EU NÃO SOU FÁCIL DE LIDAR. Eu tenho as minhas explosões, sou machucada - então demoro a confiar, e quando alguém vem me dizer algo, por vezes pra me ajudar, eu já tô respondendo como quem tampa pedras. (Já viu aqueles cães machucados que não sabem o que está acontecendo, então só pensam em se defender?! Pois é, sou um deles). 

Mas dentre todos os meus defeitos, eu tenho a qualidade de aceitar que preciso mudar e melhorar. Aliás, melhorei muito nos últimos meses. E sim, se vou culpar meu ex por todos os danos que ele me deixou, tenho também que agradecê-lo por ter me ajudado a melhorar em muitos pontos.

Com o fim "brusco" do namoro, onde eu achava que estava tudo bem e resolvido, eu comecei a questionar muitas coisas. Principalmente a 'bondade' das pessoas.


Estávamos na nossa "melhor fase" (frase dita por ele mesmo), até a então querida sogra - que eu considerava uma mãe - gritar comigo. Na hora, pra não perder a razão, me segurei, pedir desculpas por ter dado a opinião que ME FOI PEDIDA. Olhei pro cara e ele ali, com cara de nada. Desci as escadas da casa dele com os olhos cheios de água - e eu sei que ele viu, mas nada falou. Entramos no carro, e nem uma palavra. Chegamos na minha casa e quando o questionei, "achei que não precisava me meter, pois era uma coisa entre você e ela".

Pronto, a "louca" da Cacau explodiu. Quase terminamos aquele dia e ele ficou bem mal. Hoje, vejo claramente que não por mim, por eu ter falado sobre a mãezinha dele. 

Depois conversamos, eu, que havia dito que nunca mais voltaria na casa dele depois daquela falta de respeito dela comigo, enfiei o rabo entre as pernas - e mandei vergonha na cara pra pqp, só pode, e voltei. Tratei-a como se nada tivesse acontecido e segui a vida. Achei que os dois seguiríamos. Mas pelo visto não. 

Ele se chateou. Afinal, quem sou eu pra falar da mãe dele? Quem sou eu pra exigir que a mãe de alguém me trate com respeito dentro da própria casa e não grite comigo, né?! "Tempestado em copo dágua", foi o termo que ele usou.

Dali pra frente tudo desandou.


Sabe-se lá o que falaram de mim. Eu vi ele mais distante, colocando a culpa no cansaço pelo trabalho e pelas dificuldade com a mudança de casa. Vi ele querer se reunir com os amigos em plena sexta - dia que era nosso, afinal, só nos víamos nos finais de semana. 

Como eu me odeio por não perceber os sinais. Me sinto tão idiota por ter aberto meu coração mais uma vez, ter considerado a mãe dele uma mãe pra mim - relação que eu nunca tive com nenhuma outra sogra antes dela. 

Como me arrependo de ter engoli a seco outras ignorâncias que ela já havia feito (afinal, se eu estava tentando ser uma pessoa melhor, deveria entender que todo mundo tem um dia ruim) e, principalmente, de ter aguentado ela sempre falando da ex. 

No final, ela me chamou de LOUCA. E eu revidei bem sem classe, do jeitinho dela. (Eu sei, perdi a razão bem aqui). Mas foi como eles queriam: um motivo pra chamar de ingrata, de sem educação, sem respeito, ou seja lá o que for. Afinal, quem era eu pra não aceitar as faltas de educação que a mãe do bonitinho me fazia, né?!

Até que hoje tive a oportunidade de conversar com uma colega que contou uma situação bem parecida que aconteceu com ela, eis algumas partes da nossa conversa:

"Coloquei ele na parede e disse que ele tinha que conversar com ela. Sabe o que ele fez? Terminou comigo. Estou te contando a minha experiência pra dizer que homens assim, dependentes da mamãe, não mudam! Encare o que aconteceu como um livramento."

"É a mesma situação da mãe do meu ex, divorciada há muitos anos, o ex-marido casou novamente e ela não. O filho ficou no papel de marido."

"Eu me senti assim também, porque eles nos fazem pensar que estamos implicando com a sogra, que elas só querem ajudar. Ele nunca ficava do meu lado, sempre tinha uma justificativa pra amenizar o que a mãe fazia."

Ela contava e eu apenas arregala os olhos me dando conta de que, filhos únicos de mãe separadas, não são mesmo a melhor opção. Talvez até sejam, mas ai depende muito deles terem personalidade própria e não passarem pano pra mãe quando elas estão fazendo mal a quem o quer bem. O final desse tipo de homem? Se não se derem conta do problema, provalmente sozinhos com a mãe do lado. Afinal, eles precisam fazer o papel do marido que elas perderam.

E pensar que quando o conheci, ele demorou a me levar na casa dele porque dizia que a mãe havia se machucado muito com a ex namorada dele, que ela tratava como filha e havia sido uma decepção pra ela. Quando a conheci, ouvi várias histórias sobre como a menina foi ingrata e influenciada por uma amiga.

Hoje, depois de sentir na pele, me questiono se a tal da ex era mesmo isso tudo. Afinal, agora a ex ingrata que machucou a mamãe dele sou eu. Olha a história se repetindo. Coincidência, não?!

Será mesmo que as namoradas são sempre o problema? 

Resta a ele se dar conta de responder.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Amor ou raiva da rejeição?

Terceira sexta e, finalmente, eu sinto paz. Não que eu tenha esquecido, mas confesso que as decepções ajudam no processo. Então, enxergar algo ruim, acaba sendo bom.

Além disso, tenho repensado muito as situações e uma das perguntas - mais libertadoras - feitas a mim mesma hoje, depois de muito martelar a situação, foi: se vocês já não estavam bem, o fim foi ruim porque você ficou sem a pessoa ou porque ele terminou e a sua necessidade de se sentir aceita te faz sentir a pior pessoa do mundo por isso?

Por que você não sofreu dessa forma com os seus outros namoros de ANOS (onde você terminou a relação), mas sentiu como se fosse o fim do mundo só porque um cara - que esteve com você poucos meses, foi extremamente frio e ao menos teve um mínino de respeito por você no final - terminou com você?

Até quando você vai precisar se sentir amada por todos? Até quando você vai fazer das tripas coração por pessoas que vão embora sem nem olhar pra trás e não fariam nem metade por você? Até quando?

Não foi dor de amor. Foi a dor da rejeição. 

Enxergar isso destrava os caminhos, me faz mais leve e abre espaço pra seguir em frente. Apenas sigo. É pra frente que se anda.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Carta à mim mesma.


Confesso que fico orgulhosa do quanto você tem aprendido a ouvir, guardar e refletir sobre os assuntos que lhe trazem. Logo você, que depois de ser tão machuacada, já ia com quatro pedras nas mãos para quem vinha lhe dar um conselho.

Esses dias, enquanto você chorava por mais um amor que não deu certo, seu amigo lhe disse: "Seu problema é que você aceita qualquer coisa, você não escolhe, você aceita ser escolhida." 

Na hora você não entendeu muito bem, mas, depois de muito refletir, percebeu o quanto essa frase faz todo sentido.

Quando foi você deixou de ser amar? Tá, seu amo-próprio e sua autoestima nunca foram das melhores, mas, antigamente, você se permitia sentir borboletas na barriga pra estar com alguém. Lembra do Renan? Do Leandro? Do Oto? Seus namorados de tempos. Pois é, lembra de como aconteceu com eles? Você olhou, gostou e foi, de cara, uma troca mútua. Você os quis, de primeira. VOCÊ ESCOLHEU. Você não deixou acontecer pra ver no que ia dar. Você ESCOLHEU E QUIS DESDE A PRIMEIRA TROCA DE OLHARES. Entende a diferença?

Quando você se ama de verdade, não aceita qualquer um que chega e fica fazendo força para estar na sua vida. Você não dá tempo ao tempo pra "aprender a gostar", você gosta de primeira. Percebe agora o porquê de "nada mais ter dadoa certo depois do Oto?". Não foi praga, nem nada parecido. Foi você que deixou de ser ama e se valorizar e começou a ser achar indigna de amor. Dai começou a aceitar o que vinha.

O "start" disso? Você ainda não descobriu. Mas virar a chave, nesse momento, desbloqueando a sua mente pra essa situação era tudo que você precisava.

Sinta-se orgulhosa de si mesma, menina. E voe longe!


terça-feira, 6 de outubro de 2020

“Livrai-nos de todo mal.”

“Bendito seja o tempo que corrói as máscaras. 

Louvado seja o vento que leva embora o que não é bom pra ti.

“Livrai-me de todo mal”, esqueceu? 

Os céus ouvem orações e conversas que você não ouviu; enxergam coisas que você não viu.

Entregar e confiar - entre o trajeto dos dois, faz parte enlouquecer, não se esqueça.

Tão importante quanto saber o que quer, é saber exatamente o que você não quer ver nem de canto de olho: porque mulher corajosa que nem você olha mesmo é de frente e se despede mandando beijo.

Para relacionamentos eternamente mal resolvidos, a solução: seguir pra resolver a si.

Pra todo amor não correspondido, a verdadeira correspondência: o amor-próprio.

Pra toda mentira acreditada, a descoberta: sabedoria pra discernir quem merece seu tempo de quem nunca mereceu nada.” 

sábado, 3 de outubro de 2020

Sobre aceitar.

Continuo escrevendo pra acalmar os pensamentos. Acho que dá pra suportar melhor quando colocado pra fora. 

Me recordo que ele falava em casamento desde o início. No início, muito machucada, eu me assustava. E confesso que muitas vezes pensava: "ele é bem mais novo, só está empolgado e isso não vai dar em nada". Só que foi dando certo, e mais certo e mais certo ... até dar errado.

Não era pra ser?

Meu sonho era ter uma jóia (anel) e nunca pude. Quando contei desse sonho pra ele, me perguntou se eu toparia ele me dar o anel e o usarmos como uma aliança para o nosso noivado. Com medo, aceitei. Afinal, já fui noiva uma vez e o medo de noivar novamente para "nada" é imenso.

Quando o anel chegou: grande. Um troca poderia ser feita e foi. Quando voltou, ainda grande. Como não poderíammos trocar novamente, ele me deu e disse para usá-lo como um presente.

Na hora, ao vê-lo frustrado, o que me veio à cabeça foi que esse não havia dado certo porque, na hora certa, Deus permitiria que ele me desse um ainda mais bonito.

Acho que era isso que eu queria acreditar. No melhor, sabe?! Mesmo depois de ter me machucado tanto, eu não via os sinais e continuava querendo acreditar que ele era o cara certo. 

Hoje, vejo que não deu certo porque não era pra ser. Tudo bem. Mas pareceu certo por tanto tempo, pareceu certo a cada mensagem de bom dia e boa noite, a cada sexta de pizza, a casa descanso de sábado pós almoço, a cada tarde de domingo assistindo Criminal Minds.

Parecia tão certo que era inimaginável pensar em dar errado.

O casamento pra mim era algo tão real (e eu algo que eu jamais havia realmente consolidade na minha mente como havia feito com ele), que resolvemos comprar o primeiro móvel juntos.

E, NO MESMO DIA, deu errado. Como eu não pude perceber que Deus estava dizendo "não"?! (Poderia um humano atrapalhar de forma tão abrupta um plano se fosse de Deus?)

No final daquele mesmo dia ocorreu algo pelo qual eu jamais esperaria. Uma tentativa de ajuda. Um tom de voz mais alto. Um 'tudo bem' sem estar tudo bem. E, no final, colocar pra fora da forma mais explosiva com a pessoa errada. Em tese. Ou não. Dali pra frente, foi ladeira abaixo e eu não percebi os sinais. Eu não era prioridade. Eu era "tempestade em copo d'água". Até não ser mais nada.

Acho que o que que mais me dói é a frieza. A ingratidão. É o esquecer tão rápido quanto o se apaixonar. E agora dói tudo. Escolheria não sentir mais nada, nunca mais, por ninguém, se assim pudesse.

Mas sigo "aceitando" tendo em mente que se Deus diz não, quem sou eu pra discutir?! Sigo aceitando tentando colocar na cabeça que Deus tem o melhor pra mim.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

“Você será descartada quando se recusar a ser manipulada.”

“Todo relacionamento com um narcisista é baseado no jogo da manipulação, aonde ele te condiciona e te conduz para que você se comporte de forma a suprir as necessidades (emocionais, afetivas, sexuais, financeiras...) dele.
No momento em que você tomar consciência deste jogo e se recusar a submeter-se às manipulações do narcisista, você deixa de ser conveniente para ele e, certamente, ele irá te descartar e buscar uma outra vítima para explorar.
Narcisistas se relacionam em busca de benefícios e não em busca de amor ou conexão afetiva.
Um dos benefícios que eles buscam é o suprimento emocional, que são as suas respostas emocionais às manipulações dele. O narcisista adora jogar e manipular você. Isso faz com que ele se sinta poderoso.
Enquanto você responde às manipulações dele e supre as necessidades dele, você é interessante. Mas, quando você pára de se submeter, você deixa de ser útil.
Por isso, a sensação de ser usada e descartada não é apenas uma sensação, é uma realidade de todas as pessoas que se relacionaram com um narcisista.
Eles descartam as parceiras com muita facilidade e as substituem rapidamente por outra que gere mais benefícios e suprimento emocional.
Não se iluda! Se ele não tiver o que sugar, ele vai embora em busca de outra fonte. Não existe amor, a relação é apenas um jogo para ele.”

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Senta aqui, vou te contar o meu tamanho.


"Tanta gente com vergonha do próprio corpo, por causa de gente sem vergonha na própria língua."


Senta que lá vem história.

Eu preciso começar esse texto contando algo que sobre o qual já comentei sobre lá no Instagram, mas de forma bem superficial. 

Eu sempre fui gordinha a maior parte da minha vida. A maioria das minhas lembranças são dos meus pais ou pessoas próximas me dizendo para comer menos. Também me recordo de, na escola, ouvir os meninos cantando na hora do recreio: "Claudinha, baleia! Saco de areia."

Acho o máximo pessoas que são bem resolvidas com o próprio corpo e que não se importam com a opinião alheia. O problema é que eu nunca fui uma delas. Sempre tive vergonha. Sempre me olhei no espelho e me achei horrível. Gorda. Baleia, como os meninos gostavam de dizer.

Acontece que, quanto mais me chamavam de gorda ou me mandavam parar de comer porque eu "já estava enorme", eu apenas me sentia mais triste e mais eu descontava minhas frustrações na comida.

Até que um belo dia, assistindo uma novela da Globo, vi a atriz que interpretava uma bailarina que escondia comida debaixo da cama e vomitava tudo que comia para a mãe não brigar com ela. (Lembram dessa novela? Pois então. Aqui podemos abrir também espaço para o questionamento sobre o quanto acabamos sendo influenciados pelo que vemos na TV - e, agora, também pelas redes sociais).

No algo dos meus 17 anos, vi aquilo e pensei: "Se ela vomita, eu também posso. E se eu vomitar, posso comer tudo que eu quiser em engordar!"

Seria cômico se não fosse doentio.

O gatilho foi disparado. 

Eu comecei vomitando só as coisas que eu comia fora do "aceitável", como hambúrguer, pizza, chocolate ... Até que, aquilo começou a me "trazer resultados" e eu não queria mais vomitar só aquilo. Então, eu comecei a vomitar T U D O que eu comia. Desde o leite no café da manhã até a última refeição do dia. Fora os pacotes que eu passei a comprar de guloseimas e escondia no armário. Eu sentava na frente da TV com o pacote, comia, comia, comia até não aguentar mais. Quando me sentia saciada, simplesmente levantava, ia até o banheiro e colocava pra fora.

Hoje, pelo menos até à última vez em que me pesei, eu estava com 64 kg. Pra quem tem 1,55, isso é bastante coisa. Porém, naquela época, ao passar quase um ano vomitando tudo que comia, eu cheguei aos 50 kg.

Eu havia secado. Todo mundo notava. E eu me achava o máximo.

Eu poderia dizer pra vocês que eu tinha achado a solução do meu maior problema - minha compulsão alimentar - se não fosse os resultados que tudo isso estava me trazendo: Meu cabelo não só quebrou como caiu. Minhas olheiras eram imensas e o olhar era fundo. Meu estômago doía TODOS os dias. Até o dia em que minha garganta chegou a sangrar e eu entrei em desespero (mas continuei a vomitar).

Isso só acabou porque uma amiga, que não aguentava mais me ver naquela situação, ligou pra minha mãe e contou a ela o que eu estava fazendo. 

Me recordo a ligação ocorreu pouco tempo depois de um dia na qual saímos para lanchar, eu comi o hambúrguer e, logo depois, ela foi ao banheiro comigo e me viu enfiando o dedo na garganta pra vomitar o aquilo tudo.

Doentio, eu sei.

Mas pensem em quantas vezes eu me odiei ao me olhar no espelho e no quanto eu me sentia um lixo em todas as vezes em que fui chamada de gorda.

Por fim, depois da ligação, minha mãe - que ficou chocada com o que estava acontecendo debaixo do nariz dela, sem que ela aos menos percebesse -, me levou a um psicólogo, comecei a fazer uso de ansiolíticos e eu passei a não poder ir mais ao banheiro de porta trancada. PRA NADA. Porque ela me vigiava. 

O problema é que, sem minha "tática infalível", eu voltei a engordar tudo de novo. A partir dali eu comecei a fazer uso de remédios que tirassem o apetite por conta própria. Voltei a emagrecer. Porém, quando parava de tomar, sempre engordava mais do que eu havia emagrecido. Ou seja, um círculo sem fim.

Para finalizar a história, minha guerra com a balança continua. Minha bochechas são grandes, meu rosto é redondo, meu quadril é largo. Mas hoje, eu consigo me olhar no espelho e me sentir bem em 90% dos dias. Nos outros 10%, eu ainda brigo com ele. Mas eu tenho aprendido a ME ACEITAR e isso é um desafio interminável, no qual, quem passa pela mesma situação, sabe o quanto a gente luta dia após dia.

Agora vamos lá: Por que diachos eu tô contando isso tudo? 

Pois agora você vai entender.

Uma pessoa que conheço há muito tempo, foi conversar sobre mim com um amigo e, por um acaso, resolveu me contar o desfecho da conversa, que foi a seguinte:


Talvez a pessoa que me contou tudo isso possa ter pensado: "Vou ganhar muitos pontos contando para ela a resposta que dei para esse meu amigo!". CONTUDO, PORÉM, ENTRETANTO AND TODAVIA: a ÚNICA coisa que eu conseguia enxergar (e reler mil vezes) era:

"vc viu o tamanho que ela ta?"

Gente, sério. Sabe o que é você ler algo e sentir o mundo desabar na sua cabeça? Sabe o que você ficar sentada lendo e relendo a mesma conversa várias vezes porque a última coisa que você queria era ler algo daquele tipo?

Pois então. Eu passei o dia TODO extremamente triste. Sabem quando você se machuca, o machucado vai curando e você resolve arrancar a casca da ferida? Foi essa a sensação. Tudo aquilo que eu ouvi a maior parte da minha vida veio à tona. Eu me olhava no espelho e me sentia a criatura mais horrorosa desse mundo. 

Até que resolvi comentar sobre isso com uma amiga minha, que SEMPRE tem uma palavra cheia de luz pra me dar, a @advogadaporescolha.



"Cada cicatriz, cada estria é um mapa de tudo o que eu já vivi. E o meu coração é o mapa de quem eu sou."

Ainda bem que eu não dormi sem essa! 

Porque foram essas palavras que fizeram com que eu me desse conta de que REALMENTE EU SOU ENORME! E sabe por que? 

Porque o AMOR que eu levo dentro do meu coração é IMENSO.

Porque os meus SONHOS são IMENSOS.

Porque a minha VONTADE DE FAZER A DIFERENÇA NO MUNDO é IMENSA.

Porque a minha vontade de FAZER O MEU MELHOR EM CADA COISA é IMENSA.

E foi nessa hora eu percebi que esse cara realmente tinha razão: O MEU TAMANHO NÃO CABE EM MIM. EU SOU GRANDE PRA CARAMBA! Só que essa grandeza toda, só conhece quem me enxerga além da superfície. 


“Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo terá luz.” 

Despertar.

"Eu não fazia ideia de quem eu era até precisar de mim mesma." Eu sempre quis tanto agradar todo mundo, que, na minha cabeça, a id...